Nas minhas primeiras memórias neste mundo estou às cavalitas do meu avô, numa noite quente de Albufeira no meio da multidão entre os que amo.
Quando tinha mais ou menos 6 anos levaram-me ao stand da Citrôen - enquanto ele atendia uns senhores - entrei num visa novinho em folha e desci o manipulo do travão de mão. Já estava perto da vitrina em pânico quando fui salvo por ele.
Alguns anos mais tarde corrigia-me as braçadas na sala quando chegávamos à noite das aulas de natação.
Quando tirei a carta, estampei a carrinha de serviço dele noutro carro no parque de estacionamento do Pingo Doce. Em pânico, liguei-lhe e veio imediatamente ter comigo, tranquilizar-me e assumir todas as responsabilidades do acidente junto do dono do outro carro.
A sua constante escolha - delicada, ponderada - de postura perante mim e todos quantos ele amava fez de todos nós o que somos hoje. A sua visão verdadeiramente encantadora da vida contagiou - mimou - todos - um por um.
Hoje não estou de luto - O meu avô não quereria esse tom de despedida - Ao invés estou a celebrar a invejável vida do homem que me concedeu a enorme honra de ser seu neto, cujo único arrependimento que carrega é a saudade que deixa.