segunda-feira, novembro 27, 2006

[Qatar] - "Cabeças de Guardanapo"

Durante os poucos dias que já estive por aqui foi-me sendo a pouco e pouco transmitida a história por detrás deste ambiente.


Este é Hamad bin Khalifa Al-Thani, o Emir do Qatar. Desde que tomou posse em 1995, reformulou a mentalidade Qatariana, como da noite para o dia (ou no sentido inverso...dependendo da perspectiva). O seu pai defendia o "Wahhabianismo", uma vertente conservadora e purista do islamismo, interpretando o corão à letra, dificultando a inserção da cultura ocidental e o comércio com o oeste.

Hamad bin introduziu a exportação de petróleo e gás natural (recursos abundantes no país)...e usou parte dessa riqueza para atrair o resto do mundo a depositar conhecimento e tecnologia no Qatar.

Ser Qatariano pode significar uma de duas coisas:

- pertencer à numerosa familia do principe e ser-se estupidamente rico (falo de ter "Al-Thani" no final do nome), estes são os locais que são donos das empresas mais rentáveis (tachos oferecidos pelo principe?) e têm influência politica.
Contaram-me que chegam a stands de automóveis novos, e compram por exemplo: 2 hummers H3, 2 Touaregs e um ferrari...passados seis meses já espatifaram os carros (já vi por aqui porsches novinhos deixados ao abandono...completamente destruidos à beira da estrada empoeirada.

- Dar graças a Allah por, embora não ter "Al-Thani" no nome, ser-se Qatariano. O estado do Qatar patrocina todas as necessidades básicas (e algumas não básicas) aos nacionais... comida, despesas da casa, educação (mesmo que no estrangeiro...com direito a mesada para a renda da casa e mais uns bons cobres), saúde...e 1 milhão de dólares americanos no dia em que acabam a licenciatura, para "começar modestamente a vida"...é normal ver grandes mansões...milhares e milhares delas...alinhadas ao longo de onde antigamente ficava o deserto de cascalho e poeira, trocados agora por grandes avenidas, com 4 faixas em cada sentido...vida "à grande" e com espaço.

Por outro lado ser-se estrangeiro no Qatar não é mau de todo:

-Embora apenas uma infima percentagem dos estrangeiros a viver no Qatar se possam considerar "abastados", a esmagadora maioria (nepaleses, chineses, indonésios, indianos, Sri-lankas...entre outros que tais) tem aqui melhores condições do que no país de origem...aqui não há criminalidade (quando digo não há...é não haver nada mesmo), é normal ver carros de várias dezenas de milhar de euro abertos, com pertences e chaves lá dentro... o clima de autoridade intrasigente não permite "deslizes"... só a suspeita de crime dá origem a deportação imediata para o país de origem. É esta mão-de-obra barata e abundante que preenche 70% da população Qatariana, têm todos contrato de trabalho (sob pena de deportação "no-questions-asked", se forem apanhados sem um).

Ontem à noite, depois de um dia de trabalho no site da Qtel em Abou Hamour, voltei para o hotel às 21h. Por volta das 23h, saí de câmara em riste, caminhando pelas avenidas e com o plano de tirar fotografias que me ajudassem a descrever o lugar...



Esta é a principal razão porque estou cá: A transmissão de video por telemóvel dos asian games, que vão decorrer na cidade a partir de dia 1 de Dezembro (a preparação da cidade para este evento é impressionante...fizeram quarteirões inteiros de prédios com temas olimpicos, monumentos, estádios...)


Esta torre fica por cima de uma mesquita...está aberta de dia a toda a gente (não-muçulmanos incluidos)...não me hei-de ir embora de Doha sem ir lá acima tirar fotos.



Andei...andei...andei...

Pouco depois da 1h da manhã parei num ATM para arranjar dinheiro para um táxi de volta ao hotel...e foi então que ouvi pela primeira vez a voz de Maijab, num inglês com sotaque a roçar o rosnar de um camelo e um esbracejar próprio de quem se faz entender a um ser de outro planeta: "Where your car?", "you sport man?"...

Sorri para ele e tentei explicar-lhe o que estava ali a fazer e como tinha ali chegado...

Vinha num grande Buick, juntamente com um cabeça de guardanapo, o Kalhid, seu primo Qatariano.

Maijab é Saudita, faz parte, juntamente com Kalhid, da numerosa familia Al-Dosari, influente por toda a região...ele próprio tem um negócio de camelos negros na Arábia Saudita, e afirma que vive bem, uma vez que cada um dos seus camelos vale um milhão de dólares americanos (?!)...Ofereceram-me boleia e uma volta pela cidade, para ir tirar fotografias aos "best buildings", segundo palavras deles...

Na difícil conversa dentro do grande carro americano, Maijab tentou-me convencer que era um "jingle man" (?) ... depois de algum esforço conjunto, deu-me a perceber que queria dizer "jungle man"... e, meu amigo, ou estás com crises de identidade ou tens uma amazónia escondida no teu quintal e não dizes a ninguém.


Meet Maijab (o do pano avermelhado) and Kalhid:


E lá fomos nós...avenidas fora...à 1h30 da manhã, com o motor V8 a assobiar ferozmente...em busca de betão que fizesse boas fotografias.


amigos para sempre...


Sexta-feira já tenho programa com estes dois: uma ida ao deserto no jipe "GMC" de Kalhid...how cool is that?

5 comentários:

Anónimo disse...

a tua cara de bandido ;) faz me rir

McBrain disse...

OK, agora invejo-te mesmo.

Pronto.

Mas fiquei sem perceber de onde conhecias os dois tipos...

McBrain disse...

E já agora, mais outra coisa.

Invejo também a tua máquina fotográfica. :-P

A menina porta-se mesmo bem à noite!

Relógio Adiantado disse...

Heheheheh, os dois tipos conheci-os numa bomba de gasolina...viram-me apeado e ofereceram-me boleia no seu "banheirão" Buick V8...e apesar de ter tido algumas "quase-conversas" ao telefone com eles depois do incidente, nunca mais os vi. (e algo me diz que não os vou ver mais, a não ser talvez na lista dos america's most wanted)

McBrain disse...

e 1 milhão de dólares americanos no dia em que acabam a licenciatura, para "começar modestamente a vida"

<flabbergasted>ah...</flabbergasted>