quinta-feira, setembro 07, 2006

[Argélia] - Kasbah, Chez Abdallah e de volta a Portugal

Pouco depois de tomar o pequeno-almoço, combinei com Rashik, o motorista da empresa que me viesse buscar ao hotel para irmos à Kasbah, por volta das 16h. Falei também com Abdallah que me convidou para ir jantar na casa da sua familia, a poucos Km do hotel.

Para fazer tempo, fui ao ginásio (descarregar energias negativas) e depois aluguei um Catamaran durante uma hora (que estava um ventinho jeitoso)...

Rashik é um tipo impecável, super prestável, e embora tentasse parecer calmo e "trata-se de uma situação normal" não conseguia esconder o nervosismo por irmos à Kasbah, a zona "ruim" da cidade.

A Kasbah de Alger é o que Alfama deverá ter sido em tempos remotos, as semelhanças são avassaladoras e a traça das ruas parece ter sido desenhada segundo a mesma lógica (ou seja, tudo ao molho e logo se verá). Alfama já foi reconstruida inúmeras vezes desde que espulsámos os mouros de lá algures no séc XII ou XIII, e embora as suas fachadas e as suas mesquitas tenham sido adaptadas ao estilo português, o traçado original das suas ruas mantém-se fiel. A Kasbah é fascinante, suja, cheia de mitras, prédios "tombados" (onde é que já vi isto?), e "preciosidades" escondidas nas suas vielas escuras.


Este senhor carpinteiro é uma das pérolas da Kasbah que encontrei...faz móveis cuidadosa e apaixonadamente trabalhados para a população local (sim, que turistas nem vê-los)... a sua simpatia e trabalho fizeram-me encontrar o "souvenir" perfeito, este banco, com o detalhe que a fotografia mostra, por ele trabalhado, por pouco mais de 14 euros.


De volta ao hotel, Abdallah veio-me buscar 15 minutos depois e fomos a sua casa.

Abdallah vinha de uma familia abastada, dona de vários negócios na vila local, assim o retratava a enorme casa "apalaçada" onde viviam os seus pais e os seus dois irmãos solteiros: Mohammed (duh) e Fatma.

Senti-me um convidado de honra, o que me fez sentir muito embaraçado: pelos vistos os inumeros familiares (só homens) que estavam na sala a ver o jogo de futebol saíram em cortesia para "não incomodar" e foram para uma enorme mesa no jardim para a galhofa.


Para jantar, mulheres sentadas no chão e homens no sofá: coucous à moda argelina, até cair para o lado, depois melância e uvas (passadas mais de 12 horas, ainda não consigo meter mais nada no estômago).

Embora a postura entre homens e mulheres à mesa seja "à bruta", eles ajudam-nas na lida da casa.

meet Abdallah e Atika:

O tempo que estive com eles soube a pouco, tinha combinado com Rashik para me ir levar ao aeroporto às onze da noite portanto tive de me apressar, ficou o convite para passar uma noite de ramadão com eles em outubro, e a minha promessa de voltar .

Adeus Argélia, até breve:


Olá e adeus Frankfurt:
E é reconfortante estar de volta a casa:

Sallam Alekum e até Outubro.

5 comentários:

Joana Saramago disse...

E eu a pensar que Alfama era única!
De facto, pela fotos que nos mostras, é tal e qual. E não deve ser por acaso que um dos bairros históricos de Lisboa se chame Mouraria...
Os Mouros podem ter sido expulsos há muitos séculos mas deixaram muitas influencias.
Heranças mouras arquitectónicas e genéticas é o que mais há em Portugal. Ou não achaste semelhanças entre os argelinos e muitos portugueses?

Relógio Adiantado disse...

antes de mais, Alfama é única! embora o traçado das suas ruas seja o imposto pelos mouros enquanto cá estiveram (durante 500 anos!) as fachadas com arquitectura magrebina e as mesquitas foram adaptadas ao estilo cristão português numa réstia de bom senso urbanistico (infelizmente raro em portugal durante muito tempo e agora renascido graças talvez ao abominável monstro das amoreiras e outros que tais).

A mouraria, que juntamente com Alfama, fazia parte da única parcela do tecido urbanistico pré-pombalino lisboeta que resistiu ao terramoto, teve outro destino bem mais "bárbaro" (à boa moda ignorante portuguesa). Durante séculos, desde a reconquista cristã da cidade por D. Afonso Henriques no séc XII até inicio do século XX, a mouraria, confinada dentro da cerca moura (nada resta dela hoje em dia, infelizmente) serviu para alojar os mouros que por cá ficaram, subjugados e confinados dentro do seu próprio "ghetto" e, durante esse periodo de 8 séculos, o "bairro" manteve as suas mesquitas, disposição das ruas e edificios segundo o estilo mouro...relatos dizem que ainda no século XIX seria normal viver uma vida inteira dentro da mouraria sem nunca aprender a falar português...e a pena para as mulheres cristãs encontradas dentro do bairro era o enforcamento!

Portanto sim: genéticamente temos uma grande herança magrebina (não só da argélia...), cultural e socialmente essa evidência pode não ser tão evidente, mas que a há, há! e arquitectónica, infelizmente já tivemos mais, e até à bem pouco tempo atrás! O que resta hoje da mouraria é uma pálida lembrança do que outrora foi...e resta-nos ter a sorte das forças coloniais que actuaram no norte de áfrica (portugueses incluidos) não terem conseguido desenraizar as gentes árabes que por lá habitam, ou então não teriamos nenhum testemunho do que terá sido um dia, uma parte fascinante da nossa Lisboa.

Tu(g)areg Porteño disse...

JAMAIS OS PORTUGUESES SERÃO SEMELHANTES AO ARGELINOS.

Bem... agora que penso melhor... talvez a nossa pouca vontade de trabalhar venha de algum lado. Afinal, a Argélia é um país onde se pode viver sem trabalhar. Juro. Há uns tipos que fazem de arrumadores que cobram 50 Dinares por carro. 6 espetadas de carne de vaca, um prato de batatas, uma omoleta, pao e uma coca cola custam 300 Dinares. É só fazer as contas. :p

Mas ainda assim, JAMAIS OS PORTUGUESES SERÃO SEMELHANTES AOS ARGELINOS!


hihihihihi

Peço desculpa. Estou emocionalmente instável.

McBrain disse...

As fotos da Atika estão fabulosas, é conseguiste "Capturar o momento" mesmo!

Anónimo disse...

Magnificas fotos!mas gostaria de saber um pouco mais sobre como as portuguesas sao tratadas, se tambem temos de cumprir as mesmas regras que os argelinos, gostaria de visitar a cidade, obrg p