quinta-feira, dezembro 14, 2006

[Qatar] - Devoção no Souq Waqif


às 16h30 e às 18h15, o Souq transforma-se...das 3 mesquitas que o cercam, saiem canticos em tom de reza, cada um com o seu tempo e tom diferente...quem está no souq assiste a um clima dificil de descrever. Foi por essa razão que arranjei meios (embora muito humildes) de "capturar" esse momento.

Por volta das 17h estava a chegar ao Souq, tinha bastante tempo para procurar outras coisas para capturar...como por exemplo um dactilógrafo na rua dos dactilógrafos:



ou uma "fábrica" de vestuário, semelhante àquela onde mandei fazer a minha Thobe:



Chegando perto das 18h...fíeis começam a juntar-se perto de uma das mesquitas da área, esta fica na periferia do Souq...decidi ir por cima...para não incomodar...



Saltando de terraço em terraço, procurei uma posição previligiada...e eis que tudo muda no souq...

domingo, dezembro 10, 2006

[Qatar] - "Miguel, viajar é olhar..."

... disse uma vez a sua mãe poetisa. Refiro-me a Miguel Sousa Tavares, um dos jornalistas cuja vida levada me causa alguma inveja...

Na sua aparentemente inexorável verdade, a senhora quis fazer do jornalista o viajante que nunca veio a ser.

Gostava de poder dizer que é próprio dos Migueis, a arte de aproveitar a viagem...mas seria presunção a mais até porque já conheci Luises, Ritas, Tânias, Lúcias, Sandras,Danieis, Lochans, outros que nem me lembro, enfim...uma miríade de gente com nomes diferentes a disfrutar a modos "de fazer inveja" sitios que por si só, não dariam recordações genuinamente boas.

Tento ter em mente essas pessoas que conheci, tento imaginar que estariam a viajar comigo, a influenciar o meu dia-a-dia, a puxar-me para conversar com fulano, ou a tecer um plano de aventura própria daquelas que um dia se irão contar aos netos.

Para mim, viajar é também conhecer pessoas...transmitir-lhes o que tenho de bom... fazer talvez com que elas também fiquem contagiadas pela doutrina do viajante solitário - esse individuo que por durante aquele período não ter companhia fixa... se esforça por ser a melhor companhia das redondezas, para ele e para os outros. A viajar aprendi que nunca estou sozinho.

Serge e Manal estão decididamente contagiados, segundo eles próprios. A minha curiosidade sobre o seu país (libano), a sua cultura, os seus hábitos e receios, e por outras tantas coisas que para as enumerar precisaria de passar a pente fino estas semanas que aqui "vivi"... Conhecê-los e tê-los como verdadeiros amigos é e continuará a ser um previlégio próprio para alargar enormemente os horizontes de qualquer português.

Este é Ammar, palestiniano, saudávelmente boémio e colega de trabalho de Manal na Deloitte & Touche... adora discursar e discursar em jantares sobre a situação do conflito israelo-árabe. A sua perspectiva, própria de quem viveu mais do que de perto o evoluir do problema na região, solta-se à medida da minha vontade de saber esta versão, diferente da que fomos habituados a seguir pelos media.

As minhas semanas têm sido passadas a seguir o conselho da senhora mãe do jornalista...e não só... a fumar xixa no souq, dentro das arcadas enquanto na rua principal, orgulhosamente em areia batida, a multidão passa com o frenezim próprio de pelo menos 5 diferentes linguas incompreensiveis.

A capturar a essência árabe, talvez um pouco esquecida pela cidade moderna, mas bem presente neste sitio (o meu dia-a-dia já nem conhece a ausência do souq).









Este senhor, com um nome que dito por ele soa a "camarada"... é o alfaiate responsável pelo desenho e execução da minha "Thobe"...a veste tradicional, amplamente usada pelos "cabeças de guardanapo".


Quase a chegar ao fim a minha estadia no médio oriente, quero deixar bem claro que a inauguração da minha casa vai ter xixa.

domingo, dezembro 03, 2006

[Qatar] - Mil e uma noites

Ontem à noite perdi-me num dos lugares mais fascinantes que conheci...

Num labirinto enorme de cale e madeira escura, paredes propositadamente mal acabadas, arcos, colunas, salas pequenas, salas grandes, páteos e recantos escondidos onde não há acesso directo e para lá ir temos de ir através de uma janela de uma casa qualquer... Um sitio que não me impôs restrições, pude ir a todo o lado sem que houvesse uma porta com fechadura a barrar-me a passagem...realmente um lugar vindo de um sonho das mil e uma noites...









Na foto acima, fotografei um dos páteos de que falei anteriormente...para aqui chegar só dava através de uma pequena janela de uma casa...parecia ser destinada sómente a um punhado de gente, que para ir lá teria de se encavalitar numa janela...saltei de casa em casa, vista em vista...qual Miguel no país das maravilhas...



Adjacente a esta medina, está o souq waqif, o souq original de Doha, presente desde tempos remotos...completamente reconstruido pelo Emir...é "a menina dos seus olhos" e garantem-me que adora passear por aqui sozinho, - e como eu perder-se e sonhar, imagino - todas as sextas feiras por volta das 18h...







Terminei a noite numa esplanada (juntamente com este senhor entretido talvez a escrever um sms à namorada), situada num terraço, primeiro andar por cima de um café naquele souq...pedi uma chicha de maçã e ali fiquei, confortavelmente instalado num banco comprido amolfadado, a deixar absorver a atmosfera extremamente quente e confortável daquele lugar... entre bafos decidi que quero capturar esta atmosfera para a "ainda-não-minha" nova casa.

É uma pena que este sitio em Doha seja uma raridade, uma vez que os monstros de betão, ditos "edificios lindissimos" predominam na paisagem desta cidade tão heterógenea.

quinta-feira, novembro 30, 2006

[Qatar] - Pela porta do cavalo, ao estilo de Beirute

Serge é o meu novo amigo libanês.

Foi na sua companhia e através dos seus contactos com a "famiglia libanesa" que consegui ontem assistir ao ensaio geral da abertura dos jogos asiáticos...

Serge havia recebido uma chamada de um amigo libanês durante a hora do almoço, o qual ele não via já à muito tempo. O sujeito explicou-lhe que estava a trabalhar na organização dos jogos asiáticos e que lhe iria oferecer um convite duplo para o dito ensaio...
Saímos da Q-Tel por volta das 18h30, e fomos a toda a velocidade até à Sport City, a "cidade" recentemente criada para albergar o evento...pois as portas já haviam fechado às 18h...
Ao chegarmos lá, deparámo-nos com uma multidão bastante heterógenea, enfurecida por não ter conseguido entrar, ainda que com bilhetes.
Ao falar novamente com o seu "contacto" libanês, foram-nos dadas instruções de nos afastarmos da multidão, e dirigirmo-nos a um local próximo, mais discreto.

Ao chegarmos ao terreno baldio, no seu mais natural ar, o amigo libanês estava a vestir uma farda da policia local dentro de um jipe policial (!!)...

Berchote tinha tudo para ser um tipo saido dos filmes de holywood, a sua expressão constante era um misto de galã de cinema com "o tipo que se safa sempre", via-se que vivia para fazer estes filmes rebuscados e que tomava especial prazer pela clandestinidade controlada. Disse-nos para entrarmos no jipe e mantermos uma postura séria e em nenhuma circunstância falar árabe (como se conseguisse...), ligou as luzes azuis rotativas, e lá fomos nós, a escoltar uma parada de cerca de uma centena de cavaleiros árabes, vestidos a rigor para participar na cerimónia...e entrámos sem ninguém perguntar nada, no meio do frenezim constante das comunicações rádio do aparato policial do evento...fomos deixados próximo da entrada principal do estádio... e este pequeno instante de história inesquécivel valeu pela noite inteira.

segunda-feira, novembro 27, 2006

[Qatar] - "Cabeças de Guardanapo"

Durante os poucos dias que já estive por aqui foi-me sendo a pouco e pouco transmitida a história por detrás deste ambiente.


Este é Hamad bin Khalifa Al-Thani, o Emir do Qatar. Desde que tomou posse em 1995, reformulou a mentalidade Qatariana, como da noite para o dia (ou no sentido inverso...dependendo da perspectiva). O seu pai defendia o "Wahhabianismo", uma vertente conservadora e purista do islamismo, interpretando o corão à letra, dificultando a inserção da cultura ocidental e o comércio com o oeste.

Hamad bin introduziu a exportação de petróleo e gás natural (recursos abundantes no país)...e usou parte dessa riqueza para atrair o resto do mundo a depositar conhecimento e tecnologia no Qatar.

Ser Qatariano pode significar uma de duas coisas:

- pertencer à numerosa familia do principe e ser-se estupidamente rico (falo de ter "Al-Thani" no final do nome), estes são os locais que são donos das empresas mais rentáveis (tachos oferecidos pelo principe?) e têm influência politica.
Contaram-me que chegam a stands de automóveis novos, e compram por exemplo: 2 hummers H3, 2 Touaregs e um ferrari...passados seis meses já espatifaram os carros (já vi por aqui porsches novinhos deixados ao abandono...completamente destruidos à beira da estrada empoeirada.

- Dar graças a Allah por, embora não ter "Al-Thani" no nome, ser-se Qatariano. O estado do Qatar patrocina todas as necessidades básicas (e algumas não básicas) aos nacionais... comida, despesas da casa, educação (mesmo que no estrangeiro...com direito a mesada para a renda da casa e mais uns bons cobres), saúde...e 1 milhão de dólares americanos no dia em que acabam a licenciatura, para "começar modestamente a vida"...é normal ver grandes mansões...milhares e milhares delas...alinhadas ao longo de onde antigamente ficava o deserto de cascalho e poeira, trocados agora por grandes avenidas, com 4 faixas em cada sentido...vida "à grande" e com espaço.

Por outro lado ser-se estrangeiro no Qatar não é mau de todo:

-Embora apenas uma infima percentagem dos estrangeiros a viver no Qatar se possam considerar "abastados", a esmagadora maioria (nepaleses, chineses, indonésios, indianos, Sri-lankas...entre outros que tais) tem aqui melhores condições do que no país de origem...aqui não há criminalidade (quando digo não há...é não haver nada mesmo), é normal ver carros de várias dezenas de milhar de euro abertos, com pertences e chaves lá dentro... o clima de autoridade intrasigente não permite "deslizes"... só a suspeita de crime dá origem a deportação imediata para o país de origem. É esta mão-de-obra barata e abundante que preenche 70% da população Qatariana, têm todos contrato de trabalho (sob pena de deportação "no-questions-asked", se forem apanhados sem um).

Ontem à noite, depois de um dia de trabalho no site da Qtel em Abou Hamour, voltei para o hotel às 21h. Por volta das 23h, saí de câmara em riste, caminhando pelas avenidas e com o plano de tirar fotografias que me ajudassem a descrever o lugar...



Esta é a principal razão porque estou cá: A transmissão de video por telemóvel dos asian games, que vão decorrer na cidade a partir de dia 1 de Dezembro (a preparação da cidade para este evento é impressionante...fizeram quarteirões inteiros de prédios com temas olimpicos, monumentos, estádios...)


Esta torre fica por cima de uma mesquita...está aberta de dia a toda a gente (não-muçulmanos incluidos)...não me hei-de ir embora de Doha sem ir lá acima tirar fotos.



Andei...andei...andei...

Pouco depois da 1h da manhã parei num ATM para arranjar dinheiro para um táxi de volta ao hotel...e foi então que ouvi pela primeira vez a voz de Maijab, num inglês com sotaque a roçar o rosnar de um camelo e um esbracejar próprio de quem se faz entender a um ser de outro planeta: "Where your car?", "you sport man?"...

Sorri para ele e tentei explicar-lhe o que estava ali a fazer e como tinha ali chegado...

Vinha num grande Buick, juntamente com um cabeça de guardanapo, o Kalhid, seu primo Qatariano.

Maijab é Saudita, faz parte, juntamente com Kalhid, da numerosa familia Al-Dosari, influente por toda a região...ele próprio tem um negócio de camelos negros na Arábia Saudita, e afirma que vive bem, uma vez que cada um dos seus camelos vale um milhão de dólares americanos (?!)...Ofereceram-me boleia e uma volta pela cidade, para ir tirar fotografias aos "best buildings", segundo palavras deles...

Na difícil conversa dentro do grande carro americano, Maijab tentou-me convencer que era um "jingle man" (?) ... depois de algum esforço conjunto, deu-me a perceber que queria dizer "jungle man"... e, meu amigo, ou estás com crises de identidade ou tens uma amazónia escondida no teu quintal e não dizes a ninguém.


Meet Maijab (o do pano avermelhado) and Kalhid:


E lá fomos nós...avenidas fora...à 1h30 da manhã, com o motor V8 a assobiar ferozmente...em busca de betão que fizesse boas fotografias.


amigos para sempre...


Sexta-feira já tenho programa com estes dois: uma ida ao deserto no jipe "GMC" de Kalhid...how cool is that?

sábado, novembro 25, 2006

[Qatar] - Plástico mundo Árabe


Sexta foi o dia todo a andar de avião...primeiro até Amesterdão, depois de amesterdão até Dhahran, e de Dhahran a Doha.

Depois de Amesterdão, o avião (um não muito pequeno A330) veio quase vazio...



Quiçá talvez por sorte...eis que a casa de banho tem um espelho para alimentar o meu narcisismo...por uma questão de "mera curiosidade": esta foto foi tirada no exacto momento em que sobrevoava Bagdad.



Ao olhar pela pequena janela do avião enquanto sobrevoava a arábia saúdita, deparei-me com uma visão espectacular...grandes chamas, provinientes das milhares e milhares refinarias de petróleo...a iluminar o solo negro como que velas... esta é uma imagem que tão cedo não irei esquecer...tenho imensa pena de não ser possivel fotografar aquele cenário devido à pouca luz e à velocidade do avião...

Cheguei a Doha já tarde...e o rapaz do táxi, indiano...chegado ao Qatar à dois dias não fazia puto de ideia onde ficava o hotel nem "tampouco" falar árabe..."estou bonito estou"...pensei...eram 23h30 quando fiz check-in no hotel. Duche, vestir e ala para a discoteca do hotel Marwar, que é a "loucura" da cidade, sendo a única a fechar à tardia hora de...3h30!

Nesta noite aprendi algo fabuloso...um sorriso e uns beijos na cara podem salvar vidas...esta malta é maluca.

FIM DE SEXTA FEIRA.

INICIO DE SÁBADO.

Acordei tarde...assim a atirar para as 10h, apanhei um táxi para "a zona pobre da cidade"...e eventualmente fui entrar na loja do Mohammed Ali, paquistanês (não gozo...é mesmo o nome dele). Sorriso para aqui sorriso para lá, ofereceu-me os direitos do seu sorriso sincero...e um leite com chocolate para o pequeno-almoço.



Ao pé da loja do Ali havia dúzias de "antros" como o salão Al Mazali, headresser, punjabi style...



Chineses, nepaleses, paquistaneses, indianos, coreanos...mas nem um "árabe!" - "Estarei eu num país árabe?" - pergunto-me .



Como rápidamente me foi dado a perceber...autenticidades e réstias do passado...até as há, mas poucas...



Indianos estabelecem as suas lojecas...



e a pouco e pouco caminhei para a zona "chique" e aristocrata da cidade...













A determinada altura, entrei no centro comercial "city center", capaz de rivalizar com o Colombo em tamanho...e era o último lugar onde eu esperava encontrar...isto!





Bemvindo ao "Nando's"! - lê-se na ementa.

Depois de alguma conversa, percebi que o Nandinho era um tuga, imigrante na África do Sul, que decidiu abrir uma cadeia de restaurantes.

Para além de trocar os 7 castelos de Afonso III por pagodes (tal qual nas bandeiras de portugal "made in china", durante o mundial) a comida pouco ou nada tem de portuguesa...a não ser talvez nos nomes...ora vejamos



que tal um chicken prego?



Ninguém no restaurante sabia falar português, e quando perguntei a um dos empregados onde ficava portugal...sorri (um sorriso bem amarelo) quando me disse que ficava ao pé da áfrica do sul.

Por agora é tudo...mais há-de vir...daqui a bocado vou ter com um amigo sul-africano (não, não é o Nandinho) que conheci ontem à noite na discoteca.